Eu terminei o meu curso de Design de Interiores na mesma época da Olimpíada da Grécia, em 2004. Como era praxe na Cândido Mendes, os formandos participavam de um evento nos moldes de um Casa Cor, que acontecia nos espaços vazios do Rio Design Center, no Leblon. O encerramento do curso seria no meio do ano, perto do Dia dos Namorados e, como já falei, com a Olimpíada da Grécia acontecendo. Tema para a nossa exposição? "Amor, presente dos deuses", claro!
A distribuição tanto dos espaços como dos deuses, foi feita através de sorteios. Eu fiquei com um espaço que originalmente tinha sido uma loja de cozinha e com Dionísio, o deus do vinho na mitologia grega (também chamado de Dioniso; equivalente a Baco, o deus do vinho na mitologia romana).
Com esses dados em mãos, comecei a pensar no que poderia fazer. Eu tinha plena liberdade para escolher o tipo de ambiente que gostaria de representar e deveria criar uma frase que o representasse. Pelo tema, uma adega talvez fosse muito conveniente, mas também seria muito óbvio. Acabei decidindo por fazer um quarto.
Um detalhe: sabendo que sou cristã, o coordenador geral do projeto resolveu me desafiar: "Quero ver você, crente como é, dar conta de fazer um espaço dedicado ao deus do vinho e da orgia". Nada como um desafio para ativar minha criatividade!
No Design temos duas palavras-chave que direcionam o trabalho: conceito e partido. Resumindo, conceito é ideia que se quer passar e partido, os meios que usamos para colocar o conceito em prática.
Para o meu projeto adotei o seguinte conceito: um espaço que remeta ao campo, à plantação das videiras, à produção do vinho. Como partido, cores fortes, materiais rústicos e um pouco de fantasia, já que era um espaço de exposição que não seria utilizado, mas que, com algumas adaptações, poderia "caber" numa casa de verdade.
E o resultado foi esse aí:
A primeira coisa que chamou atenção de todo mundo foi a cor. Enquanto todos os outros espaços se valeram do branco como cor principal, eu parti para um tom de vinho, meio puxado para o beterraba e usando vários tons de verde para fazer o contraponto.
Eu já tinha decidido que iria usar móveis com madeira aparente, e, de preferência, com um jeito meio rústico. Sendo um quarto, o objeto principal seria a cama. Escolhi uma linda, da linha Religio, da Velha Bahia, que tem a oração do Pai Nosso entalhada na cabeceira. Usei também um banco-baú de madeira de demolição. Transformei um grande cesto em uma mesa de cabeceira e três lanternas de seda em luminárias pendentes.
Para não exagerar no rústico, escolhi uma mesinha lateral e uma poltrona de madeira aparente, com linhas mais delicadas.
Os tecidos me permitiram brincar com diferentes texturas: cortina de seda indiana, edredon de algodão rústico sobre um outro mais delicado, sedas variadas cobrindo o cesto que virou mesinha, um corte de camurça delicada que transformei em manta e coloquei sobre a poltrona, almofadas que mesclavam vários tipos de tecido: veludo, camurça, algodão, seda.
A brincadeira e a fantasia ficaram por conta dos "tapetes" que escolhi: piso todo forrado com juta verde e um tapete menor feito de grama artificial.
No mais, um bom pão italiano, um vinho, um livro... estava pronto o meu quarto!
O que mais gostei quando o quarto ficou pronto foi ver que tanto os lojistas como os visitantes e funcionários do shopping comentavam que tinham vontade de ter um quarto como aquele. Conseguir que pessoas de diversas classes e formações se agradem do mesmo projeto é muito gratificante!
E a frase que usei na vitrine do projeto (pena que não apareceu na foto) foi a seguinte: "...seja sua boca como o melhor dos vinhos, que se bebe lentamente...", que também foi uma resposta ao desafio que me foi feito pelo coordenador. Afinal, "como crente que sou" tirei minha frase do "Cântico dos Cânticos", um livro de poesia erótica da Bíblia.
Para finalizar, o crédito das fotos: todas foram realizadas pelo MCA Studio. Se quiser ampliá-las, é só clicar sobre elas.
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