A separação do lixo reciclável em casa e o abandono do uso de sacolas plásticas descartáveis no supermercado são as primeiras, mas não as únicas, medidas de consciência ecológica. Existem muitas iniciativas simples, e de baixo custo, na construção, na decoração e no paisagismo, que contribuem para a preservação do meio ambiente
1- Há um movimento mundial pelo reuso do que temos em casa ou do que é descartado por empresas ou outras pessoas. Assim, um móvel que não serve mais para os pais pode ser útil na casa do filho. Com um novo olhar sobre os objetos, é possível descobrir outros. Basta uma pintura ou um tecido novo para as peças ganharem destaque na decô.
2 - O improviso é bacana. As caixas de frutas e legumes, jogadas no lixo de entrepostos e supermercados, podem ser empilhadas e virar uma estante para guardar livros. Há anos na Europa, os paletes de madeira, usados para o transporte de máquinas e eletrodomésticos, são aproveitados na produção de mobiliário e pisos. A ideia já tem vários adeptos no Brasil.
3 - Um freio no consumismo. Outro movimento que ganha força entre arquitetos e designers é o low-tech, em oposição ao high-tech. Nada de trocar a geladeira ou outro eletro em uso somente porque lançaram um modelo novo. Se não tem um, vale pegar os aparelhos que estão velhos para outras pessoas, mas ainda funcionam. Mas fique de olho: se for muito antigo, pode consumir energia demais. Melhor usar como armário ou bar na sala. Dá um ar vintage ou retrô ao ambiente.
4 - Reaproveite embalagens. Caixas de papelão, latas de chá e de leite em pó e vidros de geleia esvaziados podem ser muito úteis. Para organizar fotos ou peças de roupa pequenas no quarto, use as caixas forradas com tecido ou papel. No escritório, as latas pintadas ou revestidas servem de porta-lápis ou porta-treco. Os vidros viram vasinhos para decorar as mesas nas festas. Até uma lata grande de tinta tem potencial para ser um banco com assento estofado.
5 - Do tempo da vovó. Nada aquece mais a alma e o corpo do que uma boa manta de patchwork feita com retalhos de tecidos até mesmo aproveitados de roupas em desuso. Além de cobrir o sofá ou a cama, podem ser adaptadas como belas cortinas ou revestir paredes. Vale fazer o mesmo com restos de tapetes. Mesmo de estilos e cores diferentes, rendem um moderno modelo.
6 - Na falta de móveis herdados de família, recorra a lojas de usados ou entidades beneficentes que recebem doações. Lá dá para comprar peças de época, com design clássico e moderno, a bons preços. Alguns desses locais oferecem o serviço de restauro. Mas também é interessante usar móveis detonados, com a marca do passado e de sua história.
7 - Existe um teste chamado pegada ecológica no site da WWF que determina se a pessoa é consciente pela quantidade de metros quadrados que ela utiliza para morar. Leva em conta que se cada um habitar uma grande casa, não haverá lugar para todos no planeta. “De acordo com essa premissa, um espaço multiuso é uma atitude sustentável”, segundo o arquiteto Gustavo Calazans.
8 - Compre a produção local. De modo geral, as verduras e as frutas disponíveis nos supermercados viajam longas distâncias até chegar a seu destino final. Imagine a emissão de gás carbônico decorrente dessas longas travessias. Em relação aos produtos importados, prefira os transportados por navio, que causa cinco vezes menos impacto na emissão de poluentes em comparação ao frete rodoviário. Logo, ir à feira é uma atitude sustentável.
9 - Na reforma de apartamentos, a demolição de paredes para eliminar o excesso de cômodos integra os ambientes. Além da amplitude, isso melhora a circulação de ar, o que deixa o clima mais fresco no verão, e proporciona maior insolação, aquecendo os ambientes no inverno. “Assim não é necessário instalar sistemas de aquecimento ou de ar-condicionado, minimizando o consumo energético”, diz Calazans.
10 - Em grandes cidades, como São Paulo, os centros têm prédios de apartamentos antigos, incríveis e históricos, abandonados por falta de interesse imobiliário. Para um desenvolvimento urbano sustentável, arquitetos defendem a realização do retrofit nesses edifícios para que voltem a ser habitados em vez de se continuar a construir novos prédios. O princípio do retrofit é restaurar as fachadas e adequar os espaços internos às necessidades atuais, como nova instalação elétrica e hidráulica e acesso à internet.
11 - Em reforma, o reaproveitamento de revestimentos evita a geração de entulhos, que precisam de caçamba para ser removidos, encarecendo a obra. Muitas vezes, esses resíduos são lançados em rios e córregos da cidade, o que causa enchentes. Por isso, o ideal é restaurar os tacos, que costumam ser de madeira nobre. É melhor do que comprar um assoalho, cuja origem pode ser de florestas devastadas ilegalmente. No caso dos azulejos e pisos cerâmicos, em vez de removê-los, aplique em cima um novo acabamento.
12 - Os móveis de madeira maciça e nobre estão virando artigos de luxo ou de antiquário. A marcenaria caminha para o uso apenas de matéria-prima feita de compostos madeirados, tipo MDF, na fabricação de mobiliário, que será apenas revestido com folhas das madeiras nobres.
13 - Mesmo o tronco de árvore derrubada por tempestade pode ter melhor aproveitamento do que virar somente a base de uma mesa. “Recortado em pranchas ou ripas, rende muitos móveis, projetados com o dimensionamento mais adequado da madeira”, na opinião dos arquitetos Marcelo Ferraz e Francisco Fanucchi, da Marcenaria Baraúna.
14 - Há uma retomada pelos revestimentos simples, como piso de cimento e de ladrilhos hidráulicos, que são materiais de baixo impacto ambiental. Não consomem energia na produção, porque não são queimados em fornos. “O melhor cimento é o CP III, que emite menos poluentes porque é feito 70% de resíduos de siderúrgicas”, diz a arquiteta Adriana Yazbek. Outras opções sustentáveis são os pisos de bambu e de madeira de origem certificada.
15 - As grandes janelas ou panos de vidro, fechando os vãos entre os pilares da estrutura das construções, garantem a entrada de grande quantidade de luz natural nos interiores, dispensando acender lâmpadas durante o dia. Para iluminar o centro da casa, a solução está nas claraboias.
16 - Para a iluminação artificial, existem as lâmpadas de baixo consumo de energia elétrica, como as fluorescentes. Atualmente, há modelos que emitem luz de tom amarelado, mais aconchegante para salas e quartos. Outra opção é a luz de led, que consome dez vezes menos energia do que, por exemplo, as lâmpadas dicroicas.
17 - A ventilação cruzada nos ambientes evita o uso de aparelho de ar-condicionado. Para obtê-la, é necessário ter janelas em paredes opostas, de preferência uma em frente à outra. O modelo basculante é útil porque pode ficar aberto mesmo nos dias de chuva.
18 - Nos últimos anos, a produção de placas de captação de energia solar cresceu 19% no Brasil, segundo a Abrava, Associação Brasileira de Refrige-ração, Ar-condicionado, Ventilação e Aquecimento. Isso levou à redução do preço do produto. Na Soletrol, um sistema de aquecimento solar para quatro banhos diários custa R$ 1.400 e representa economia de 2 mil kW/h no consumo de energia elétrica por ano. Estima-se que haja 250 mil aquecedores solares instalados em lares brasileiros.
19 - Quem mora em casa pode instalar um sistema de captação de água de chuva por calhas e tubulações para ser armazenada em caixa com tampa ou cisterna enterrada no terreno. Sem tratamento, o líquido é canalizado para as caixas de descargas no banheiro e para as torneiras da área externa usadas na irrigação do jardim. Há kits pré-montados com reservatório – de 100 a 300 litros de capacidade – à venda nas lojas de material de construção.
20 - Cada um pode contribuir para aumentar as áreas com vegetação na cidade. Na construção ou reforma da casa, o telhado tradicional pode ser substituído pelo teto verde. Empresas especializadas, como a Ecotelhado, fazem a instalação das coberturas com terra, grama, sistemas de irrigação e drenagem em lajes. Além de melhorar o clima na cidade, deixa agradável a temperatura nos ambientes.
21 - Os aparelhos eletrônicos, como TV e carregadores de celulares, não devem ficar o tempo todo plugados nas tomadas porque consomem energia mesmo quando não estão sendo usados. Para economizar eletricidade, dispense os acessórios de cozinha de pouca utilidade no dia a dia, como facas elétricas e processadores de alimentos.
22 - Não precisa morar em casa para cultivar plantas. Em apartamento, dá para ter espécies em um painel na parede, como os criados pela paisagista Gica Mesiara, da Quadro Vivo. “Estudos mostram que áreas de 12 m² com plantas já influenciam no microclima: atraem pássaros, diminuem o calor em até 4ºC, melhoram a oxigenação do ar e reduzem a poluição sonora”, diz ela.
23 - Há diversas tecnologias modernas de adubação e de aplicação de defensivos orgânicos para proteger as plantas, oferecidas por empresas como a EcoJardim. Na irrigação, os equipamentos garantem a utilização racional da água, em benefício da preservação dos recursos naturais do planeta.
24 - As calçadas devem ser drenantes para que a água de chuva retorne aos mananciais. Para isso, deve-se evitar a aplicação de massa de cimento e de cerâmica entre os canteiros do jardim. O melhor caminho é espalhar pedriscos ou pôr pedras sobre uma base de areia diretamente no solo. Outra opção é colocar dormentes, descartados por estradas de ferro, ou cruzetas de postes antigos de eletricidade.
25 - Escolha os vasos de materiais naturais, como barro, cerâmica e madeira. São mais duráveis e menos ofensivos ao meio ambiente do que os feitos de compostos plásticos.
26 - Prefira espécies nacionais. As plantas nativas já são adaptadas às condições climáticas do país. Além de exigir menos cuidados, cultivá-las contribui para a preservação da flora brasileira. Algumas sugestões de árvores: jatobá, pitangueira, jabuticabeira, ipê, uvaia e cupuaçu.
27 - Não tem coisa melhor do que comer hortaliças e legumes da própria horta. A principal vantagem é que os alimentos ficam livres de agrotóxicos. Para ter uma em casa, siga as instruções: as plantas de raízes são cultivadas em vasos ou canteiros de 20 cm de profundidade. Já as folhas, mais a abobrinha e o tomate precisam apenas de 15 cm.
28 - Assim como o lixo reciclável, os resíduos orgânicos podem ser aproveitados. Com a técnica da compostagem, dá para produzir adubo orgânico em casa para o canteiro de ervas. Separe cascas de frutas e legumes em um recipiente com tampa (não coloque grãos ou restos de comida, que causam mau cheiro e propagam insetos). Por cima, coloque uma camada fina de serragem. Depois de cheio, deixe apurar por quatro meses, longe de lugares úmidos.
29 - Evite combater as pragas do jardim com fumo, que não é ecológico. A agrônoma Marília Lima sugere outra receita caseira: bata no liquidificador 100 g de alho e a mesma quantidade de pimenta-do-reino. Ponha a mistura em garrafa escura com 1 litro de álcool e deixe curtir por sete dias. Dilua 100 ml a cada 10 litros de água com uma colher de chá de detergente neutro. Pulverize na planta.
30 - Mesmo nas metrópoles, é possível receber a visita de pássaros. Para atraí-los, basta colocar um comedouro com frutas frescas, alpiste e sementes de girassol na varanda ou no terraço. Árvores como a amoreira ou a flor de hibisco causam o mesmo efeito. Lembre-se também de trocar a água todos os dias e jamais acrescente açúcar ou mel.
31 - Já existem vários materiais de construção fabricados com lixo reciclado. O mais conhecido é a telha ondulada da Ecotop. A peça é produzida a partir da moagem e prensagem de tubos de creme dental, que são compostos de alumínio e plástico. São mais duráveis e resistentes do que a de outros materiais, além de reduzirem o volume de detritos lançados em aterros sanitários.
32 - A decoração pode agredir menos a natureza. Há muitas opções de tecidos naturais, como algodão, linho e seda, para confeccionar cortinas e revestir estofados. Na pintura da casa, podem ser usadas tintas ecológicas à base de terra, como as da marca Solum, que possui uma cartela de 15 cores. Ou ainda, vale recorrer à velha e boa pintura com cal.